terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O que faz de uma video game music algo para recordar?



Olá galera. Resolvi dar uma pausinha nos reviews de musicas de jogos para falar de um assunto interessante.

Eu comecei este blog por causa de meu interesse por músicas em jogos, as chamadas "video game music", que muitas vezes seguem um estilo próprio não encontrado em música convencional.

Acontece que muitos dos jogos que tem músicas das quais eu quero falar são jogos antigos, da era 8 ou 16 bits. Existem algums jogos mais novos que eu quero falar com certeza, mas a grande maioria dos que vem imediatamente em minha cabeça são jogos mais antigos mesmo.

Levando em conta que os jogos de antigamente tocavam suas músicas usando processadores de som que, se vistos hoje em dia, não são lá grande coisa, ficaria esquisito de imaginar como os bipes e cliques de antigamente podem disputar com as grandes sinfonias orquestradas ou as músicas licenciadas de hoje em dia, mesmo assim, se você for perguntar a muitos gamers por aí quais são seus top 10 sucessos de video game music, vão sair uns 7 ou 8 jogos do passado.

Então afinal, o que há nos sucessos do passado que cativam tanto a gente, que motivam bandas dedicadas a estas músicas e que geraram até mesmo grandes espetáculos cuja grande estrela são estas pérolas do passado? (Video Games Live vem logo na mente).

Não há como negar que jogos de hoje em dia possuem músicas belíssimas. Joguei recentemente a versão demo de um jogo de XBX360, Eternal Sonata, um RPG dos criadores de Valkirye Profile. O jogo conta a história dos momentos finais de Frédéric Chopin, que estando em seu leito de morte, começa a sonhar sobre um mundo fantástico (que maconha errada essa aí em Chopin?). A música do jogo é maravilhosa e se tratando de um jogo com Chopin há de se imaginar diversos elementos de gameplay relacionados a música.

Ok, um jogo recente com uma linda música. Eu joguei o demo algumas vezes, desliguei o videogame e... esqueci o diacho da música. Sério, eu não consigo cantarolar ela por exemplo, ou tentar ficar lembrando dela. Ela dura os belos momentos em que é tocada e depois some da minha memória.

Eu lembro quando joguei Megaman 3 pela primeira vez e ouvi a música de abertura. Lembro como se fosse hoje que eu resetei o jogo algumas vezes pra ficar ouvindo a música e até hoje eu consigo cantarolar ela e lembrar dela. Eu joguei Megaman 3 mais ou menos em 91, depois fiquei aí uns 6, 7 anos sem jogar até que a onde de emuladores começou pra mim, mas eu ainda lembrava de Megaman 3 e sua musica de abertura.

Ou seja, as músicas de antigamente estavam ficando em minha memória com muito mais facilidade que as de hoje em dia. Ora, é tudo música, porque a música de Megaman 3 não sai de minha cachola enquanto a música de Eternal Sonata evapora que nem álcool no minuto que eu desligo o videogame?

Tommy Talarico, co-autor do show Video Games Live, foi entrevistado uma vez (infelizmente não tenho um link para mostrar a entrevista) e perguntaram pra ele como era trabalhar com video game music no passado. Tendo ele composto a música de Earthworm Jim entre outras, ele respondeu de uma forma que chamou minha atenção. Não lembro exatamente as palavras que ele usou, mas sei que queria dizer o seguinte: "Antigamente não tinhamos muitos recursos, então para fazer músicas marcantes, tinhamos que nos preocupar com a melodia. A música tinha que ter melodia forte."

Melodia forte, taí, posto desta forma faz algum sentido. O que vivemos cantarolando dos jogos de antigamente é sua melodia, que foi feita para ser marcante. Talvez seja isso que falta nos jogos de hoje em dia, uma melodia marcante. Se pegarmos um jogo mais recente, por exemplo World of Warcraft. O jogo possui em sua maioria músicas orquestradas, que muitas vezes são belíssimas (a música de abertura pode muito bem fazer parte de uma ópera) mas tem a desvantagem de esconder a melodia debaixo de 50 níveis de sons harmônicos feitos parar "ambientar" a música. Funciona para ambientar, WoW com certeza tem um ar medieval por conta de sua música, mas é péssimo para fazer a música "pegar". Eu gosto muito da música de WoW e atualmente jogo ele quase todo dia, mas infelizmente só lembro da música de abertura e um pedaciiiinhoo da música de The Nexus (para quem não conhece WoW, The Nexus é uma dungeon).

Não estou querendo dizer que é "errado" fazer música assim e que existe uma forma "certa", afinal, cada um tem um gosto diferente e aqui estou falando apenas do meu gosto. Mas o que eu acho é que a música hoje em dia é usada como acessório nos jogos, algo para dar ambientação a jogatina mas que se tirada do contexto do jogo e tocada por sí só não impressiona tanto assim, e para mim uma boa video game music deve conseguir impressionar mesmo sendo tocada por si só.

Eu acredito que esta tendência dos jogos de hoje em dia de possuirem tais músicas orquestradas, com ricas ambientações e melodias pobres, não precisa acontecer. Existe espaço para sonoridades de alta qualidade com belas melodias que cantarolamos por gerações. Me vem a mente um jogo não tão recente mas com certeza já da nova geração de jogos: Shadow of the Colossus para PS2. Vou fazer um review da música deste jogo no futuro mas posso adiantar uma coisa, este jogo conseguiu juntar os dois mundos de forma belíssima. A música deste jogo é orquestrada, mas de alguma forma ela possui uma melodia marcante. Você escuta uma das músicas e quer escutar de novo e de novo, e depois que você desliga o jogo ela ainda fica em sua memória, talvez até fazendo você religar para jogar mais um pouquinho.

Enfim, eu acredito que com a tecnologia que temos hoje é possível que tenhamos músicas marcantes como as de antigamente que, unidas aos recursos de hoje, permitem criar novos sucessos que durarão por mais diversas gerações, se tornando no final das contas imortais.

7 comentários:

  1. O que o Tallarico falou tem fundamento. O que acontece é que hoje em dia as músicas têm um papel mais parecido com o que têm no cinema, de servir como pano de fundo para a ação. Por isso muitas vezes não há uma preocupação tão grande com a melodia, mas sim com a criação de uma atmosfera.

    Eu sempre gosto de citar o exemplo do Final Fantasy VI. A música do Kefka (e a de muitos outros personagens) é "a cara" do sujeito, e isso não é por acaso. Como os gráficos ainda não eram detalhados como os de hoje, um tema musical marcante ajudava a definir o personagem, já que não podíamos ver suas expressões faciais.

    My two cents...

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  2. Exatamente, a música antigamente tinha que mostrar o que os olhos não vêem.
    Apenas acho que isso não tem que morrer só porque hoje os gráficos conseguem mostrar o que antes não conseguiam. Como seria um Final Fantasy VI remake, com melhores gráficos e a mesma música, apenas refeita para se adequar a exigência de qualidade de hoje em dia?

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  3. Ah... Então é isso... Já tinha feito antes essa pergunta, mas não tinha encontrado a resposta. Os jogos da nova geração com muito recursos de som não tem melodias marcantes em sua maioria nas trilhas.

    Acredito que o excesso de recursos facilita a saída de coisa muito genéricas e pouco trabalhadas... Apenas alguns conseguem sair disso... Sendo proporcional, já que quanto mais recursos, mais fácil fica fazer o jogo e mais porcaria aparece.

    Excelente Texto e Adorei o Blog.
    Arrasa Nem!

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  4. EXCELENTE TÓPICO, e excelente percepção amigos...tudo verdade!
    apesar que ainda existem games com musicas marcantes como o dancovich citou..sotc eh lindo demais....mas god of war por exemplo tb tem trilhas linadas q nao ficam apenas como pano de fundo.. o tema principal eh a cara do kratos e do q ele enfrenta.. vc ouve se sente em um épico, mesma coi a musica de HALO...maravilhosa, graças a DEUS tem ainda MUITO talento e criatividade no mundo dos games atuais.

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  5. Nem só de melodia viverá o homem. Mera sequência linear de notas, músicas que dependem demais do charme de uma melodia são geralmente pobres nos outros aspectos, como harmonia, contraponto, estrutura, colorido. Exceto no caso de Mozart e alguns poucos outros... :)

    Muitas pessoas falam bem das músicas de Zelda:OoT, mas quando olho suas preferências, vejo listas e mais listas das melodias simples da ocarina, epona em particular. Mas o gênio de Koji Kondo só se revela no brilhantismo hipnótico, fantasmagórico e incrivelmente ambiente da música dos templos/dungeons.

    Perceba como dentro da árvore Deku a música lembra sopros sendo aleatóriamente tocados. Você tá dentro de uma árvore, oca e cheia de passagens para o vento passar e lá está essa música divina fazendo exatamente isso. E que tal no Templo das Águas? Aquela harmonia de cítaras e outros instrumentos simulando pingos d'água cheios de eco... Ninguém tem como assoviar isso, mas é muito mais música do que o tema da epona...

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  6. @literativa

    "Ninguém tem como assoviar isso, mas é muito mais música do que o tema da epona..."

    Concordo com você em que ninguém tem como assoviar isso. Não vou entrar no mérito de qual musica é melhor, até porque também gosto muito das músicas de dungeons de Zelda em geral. Meu ponto foi realmente esse, a música é ótima, cria a ambientação perfeita para o momento do jogo, mas não marca. É o que você chamou de "não dá pra assoviar". De forma alguma uma música vive somente de melodia, mas sem ela a música não fica na memória, você não consegue cantarolar ela, e esse foi justamente meu ponto no artigo. Agora concordo que os jogos ficariam extremamente pobres se não tivessem as musicas "ambientais", que dão o clima.

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  7. Hmm, mas não é porque não dá para assoviar ou cantarolar que não tenho a música em minha cabeça. :)

    Tenho cada nota e acorde em sequência na cabeça. Mas por outro lado, tenho mais estudo em música que a maioria. Oh, arte perdida! Somente quem estuda realmente consegue apreciar ao máximo todos os detalhes... para os outros não passa de um borrão disforme e sem nexo... :))

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